A Boeing fez voar, dia 20 último, a nova versão para passageiros do 747, o Dash 8, 6 metros mais longo que seu antecessor (curiosamente um Dash 4), no terceiro facelifting da velha dama quase cinquentona. Antes, ela já havia sido encompridada, encurtada, aumentou a cabeça, e já voava há quase 1 ano, como 747-8, com carga, com uma capacidade máxima de 154 toneladas, em rotas de até 8200km, e agora, com 467 passageiros, em três classes de serviço, mais 30 toneladas de carga paga, por até 16 horas de voo, alcançando mais de 14500km.
Mas essa velha dama agora tem uma asa maior e com um desenho de aerofólio mais moderno, capaz de garantir menor arrasto e evitar ondas de choque sônico em quê as pontas das asas avançam, por efeitos exatamente decorrentes do arrasto e turbulência gerada pelo 'design' das aeronaves, e mesmo a própria asa, a partir de seu centro, causados ao se deslocarem próximos à velocidade do som.
Já desde os sexagenários DC8 e 707, grandes pioneiros, os aviões comerciais voam escudados pela barreira da sua velocidade em relação ao som, que causa intenso esforço estrutural quando se avizinha.
Assim, desde que decidiram que os supersônicos não devem fazer voos comerciais, com a aposentadoria dos maravilhosos Concordes franco-britânicos (*1), ainda teremos voando por ai essas máquinas lindas, graciosas e recordistas em eficiência pelos próximos 20 ou 30 anos, incluídos os também gigantescos Airbus 380 para até 800 passageiros.
Para se ter uma idéia, no primeiro voo em 1969, do 747, Jumbo, logo apelidado, havia na cabine 5 tripulantes para operar a fantástica cabine com 970 mostradores, luzes, botões, indicadores, interruptores, que arrastava então, ao sair do chão, 350 toneladas de peso total. Era o mesmo ano em que o homem havia chegado à Lua, e no Brasil eram lançados então o Corcel e o Opala, num mundo de fuscas e willys, aero, jeeps, rurais, vemaguetes e lambretas Vespa. Custava 36 milhões de dólares, naquela época, o 747, não a lambreta. Mais ou menos o preço de 7 computadores S/360 da IBM, então.
Hoje, tem 2 tripulantes (capacidade da lambreta ou romiseta) para operar 'apenas' 365 daqueles botõezinhos, mostradores, interruptores e indicadores da performance dos sistemas e do voo, 100% automatizado, controlado por algumas centenas de processadores e memórias de silício, monitorando tudo, corrigindo e aferindo.
Custa agora, 320 milhões, deve falar até mamãe e papai e estacionar sozinho. Bem mais que 7 computadores de última geração, mas na faixa de preço dos grandes sistemas ainda fabricados pela mesma fabricante dos 360 de então. Aliás, o que um avião desse hoje é, senão um complexo e otimizado sistema de computadores para voo, manobras, etc?
Chego até aqui, falando disso, porque vejo na rede, na página do Jumbo, na Wiki (rá rá rá que eu guardo isso de memória...) que tem um doido que quer comprar um 747, para usar como aerohome, além de servir a eventos e como atração turística, por onde for...
Claro, um Jumbo, não é uma coisa fácil de se ter em casa, mas se ele for casa, resolvido o problema.
Exceto pelo estacionamento: à razão de centenas de dolares por hora, as estadias vão acabar por demandar o feliz proprietário de um 747 ter que comprar um aeroporto, ao invés de um sítio ou uma fazendinha.
Além disso, se nessa fazendinha com pista não tiver uma piscina, nem adianta: os 240 mil litros de querosene para abastecer o grandalhão equivalem à uma piscina de 12m x 10m x 2m de profundidade.
E esse balneário de querosene queima-o à razão de 11 litros por quilômetro voado: mas se considerado o peso deslocado, passageiros/carga inclusos e a autonomia, apresenta um custo próximo de 3 vezes para transporte de pessoas e cargas por superfície, ganho multiplicado pela rapidez 9 vezes maior que um automóvel, caminhão ou ônibus, e umas 15 em relação à lambreta. Quem dirá lombo de burro...
Quanto ao louco, que quer um Jumbo (rê rê... eu já quis, só quis, um preto escrito meu nome dourado...e uso privado), sugiro que visite um hotel em que foi transformado um 747, na Europa, antes de se decidir pela compra.
Quanto ao meu... bom, nem precisa ser da Boeing não. Ou um sucatinha 737 estava bom demais...
C
24III2011
p.s. (*1) Os Concordes eram máquinas que voavam 2,0 vezes mais rápido que o som, ou seja, 2340km/hora, à temperatura externa de 0ºC - na faixa em que voam os supersônicos, na tropopausa, que é mais aquecida que a camada inferior, a troposfera -, chegando sua estrutura no bico à temperatura de 120ºC, em sua velocidade de cruzeiro 2 vezes mais rápido que o som, pelo atrito do ar, a 18km de altura, 8 mil a mais que jatos convencionais.
Faziam a rota Paris a New York em 3 horas, Paris ao Rio, via abastecimento em Dakar, em 5 horas.
Dos 12 que voavam em 2003, ao serem desativados do uso comercial e perderem os certificados de aeronavegabilidade que eram mantidos pela Airbus, pelo menos 4 ainda têm a condição de voltar a voar.